terça-feira, 30 de dezembro de 2014

365 dias



Eu ainda não fui encontrada. Quase trezentos e sessenta e cinco dias perdida. O mar me engole, há um desespero no meu grito esganiçado.  

Onde estão as lágrimas? Secaram. 

Me agarro as ondas, em vão, a água escorre pelos dedos.  O sal afeta a visão. Arde também a vida, urgente.  Meu corpo enfraquecido tenta os últimos movimentos, mas são as ondas do mar e do tempo que fazem o trabalho e me carregam.

E se eu desistir? Meu corpo caberia em meio as rochas frias?

Algo tenta fazer com que eu feche os olhos, pare a respiração, deixe a água emergir e eu começo a boiar. 

Só mais alguns dias. Já, já, a água abaixa.  Daqui a pouco o farol acende ou um fogo de artifício pra reafirmar que eu não vou morrer na praia, que eu vou me salvar, penso. Um pingo de esperança vai se renovar em mim. Só mais alguns dias.  

Fonte da imagem: http://migre.me/nPHxy

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A vida é uma droga


Fonte: http://migre.me/m5NFE

A vida é uma droga.
E a gente nem escolhe entre comprá-la ou não. Nós é que somos oferecidos a ela, entregados a cada trago, dose, efeito. Somos dominados. E raras às vezes, dominantes.

Ela é um constante estado de dependência, quando um viciado tem que ir para reabilitação e sofre com dores no corpo, suor, calafrio. Se sente a beira da loucura.
A vida é uma droga dessas que te colocam num paraíso artificial.

Mas artificial mesmo aqui é só a felicidade, passageira que pula no meio da viagem e nem nos dá tempo de prová-la direito. E a gente ainda tenta prendê-la, puxar pelo pé quando ela começa a fugir. E fingimos que ela está intacta, mesmo quando ela já se foi.
Bobos.

Somos todos dependentes dela. Precisamos prová-la a todo o momento.

E nem tem o efeito de uma droga boa. Mas sorrimos como se tivesse, só pra ver se ela anestesia um pouco. Só pra ver quanto dura. Só pra ver se a gente aguenta. E a gente aguenta, meu amigo. A gente aguenta. 


sábado, 17 de maio de 2014

Não sei nadar


Não aprendi a nadar. Meu pai só me ensinou a amarrar o cadarço, pra eu evitar os tropeços que a vida dá.  

Com pés no chão eu ando bem, mas às vezes me jogam numa maré ou eu mesmo me jogo no mar e afogo.

E agora, pai?

O pai do meu pai atravessou o mar e eu quase não me atravesso, mesmo tão pequena.

É tanta água, é tanta onda, me jogam pra lá e pra cá. Eu bato os braços, seguro em qualquer coisa insignificante pra manter a respiração.  Mas a água entra pelo nariz e queima viver.

Em mim afogo, um dia quem sabe rola pelo menos um nado cachorrinho. Por enquanto eu vou lutando, quem sabe até não alcanço voo. 

Reprodução: Facebook/Ponto-Cego

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Escuta


Eu preciso te escrever uma carta, te dizer pela milésima vez que dói demais e chega até a minha alma, minhas entranhas, meu coração.

Dói tanto. Tanto.

E você não fala comigo e por mais que eu tente falar com você, parece que o você ignora minhas palavras.

Há tanto tempo eu me sinto assim afundada, sem vida, destruída. E o senhor não faz nada.

Eu não quero mais sentir isso, essa dor! Me escuta...

(...)

É, acho que eu deveria parar de acreditar em você, nas suas promessas que me contaram, devia parar de te chamar... De orar pra você me salvar, Deus!


Fonte: http://migre.me/iJCfbhttp