quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Distantes

- Tá doendo, né?
- É. Bastante.
- E agora?
- Não sei.
Alguns minutos de silêncio.
- Já pensou em voltar atrás?
- Nem cogitei essa possibilidade. Meu medo é fiel.
- Hum... Entendo.
- E você?
- Também não. Meu orgulho é fiel. Mas... Eu sei que dói... E muito.
Ele pensou em segurar a mão dela. Ela pensou em segurar a mão dele.
Continuaram distantes.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

A faca, o queijo e o coração.

A faca. O queijo. O coração.
Está tudo ali, ó. Em cima daquela mesa, bem pertinho de você. Nem precisa sair do seu ponto de conforto de tão perto que está.
Ei, moço! Quanta preguiça! Levanta!
Ah, não é preguiça? É medo!
Não se preocupe a faca está longe de te ferir, o queijo longe de te envenenar. E o coração? Muito, muito longe de te magoar.
Você tem todo o poder da faca em suas mãos. O queijo está todo picadinho pra você, nem precisa de esforço pra mastigar. Ah, querido, e o coração... Ah, o coração... Ele está todo dominado por você.

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Inspirado na música Flores do Mal - Barão Vermelho

domingo, 28 de agosto de 2011

A Porta

 A porta, de novo aquela porta. A chave dela vive pulando pra fora do bolso daquela moça, é tão escorregadia. E olha e encanta, e, é como se dissesse "Não me tranque de novo, por favor.".  A moça não resiste e reabre.

 Marcas de tanto que a moça chutou e a esmurrou de raiva por fazê-la brincar de abrir e fecha-lá são vistas sem muita dificuldade.

 Resolve então, como última tentativa, trancar a chave dentro de um cofre, e, como já era de se esperar, esqueçe o código que o abre. Logo, se lembra e abre de novo. É mais forte que ela.
 Empurrou e pressionou móveis para ela não abrir quando a chave começava a fraquejar.

Tudo, qualquer esforço que fazia, era em vão. Mas tudo isso já era de se esperar, afinal, tudo que rodeia a porta é torto, bagunçado. Era o destino dela ser imperfeita como todo o resto.

 No momento que se encontra ela está cansada, assim como a moça que tenta dominá-la. Está entreaberta, qualquer vento que sopre, qualquer movimento descuidado da moça..."BAM!" Se escancarará novamente.
É um ciclo meio vicioso, meio involuntário.


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Obs.: Já deve ser a segunda ou terceira postagem que falo sobre porta, não é? Então, vou fazer uma revelação...Rangidos de porta no meio da noite me assustam. Pronto, falei! Beijos ;*

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O Mundo Dele


Tem um mundo só dele. Ninguém entra, ninguém invade. Tudo é encaixado como ele quer.
Desenhado de forma calculada, sem erros.

 Mas existe também o lado obscuro, aquela versão traidora de seu mundo. De repente vem o “lado negro da força”, aqueles seres que borram seu desenho, jogam água na tinta fresca que acaba de desenhar um belo arco-íris. O derrubam, bombardeiam e matam.
 Sombras caminham devagar em direção ao seu poderoso sol.
 Seu mundo! Como ousam invadir? Quem permitiu a passagem?
Os seres riem da destruição causada.
 Só não esperam o domínio dele, que volta repintando tudo, desenhando tudo novamente que foi destruído e de uma forma mais bonita do que era antes.
 Ela só observa aquilo, tenta entender , quer entrar nesse mundo, mas tem medo.
Prefere dar espaço a ele, então apenas continua a observar a perfeição do funcionamento de tudo aquilo. Se ele perder as forças e precisar de mais um guerreiro para a batalha, ela vai estar pronta, vai pintar e desenhar.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Não fique triste assim

Se refaça. Erga essa cabeça. Enxuga essas lágrimas, elas não combinam com a cor dos seus olhos. Aquele sorriso, sim, esse deixa seus olhos mais iluminados.
 Lembre que tudo passa e nada é pra sempre, o final feliz talvez até exista.
 Pode não existir o príncipe dos seus sonhos, mas quem precisa de perfeição? Coisas milimétricamente calculadas são tão chatas, as coisas que te surpreendem de várias formas são mais instigantes. Tudo que é perfeito uma hora cansa.
 E não se preocupe, a felicidade vai muito além da outra pessoa, vem de você.
 Esse não será seu último tombo, então vamos, levante!
 Saiba que eu estarei aqui sempre pra te ajudar. Por isso, por favor, não me decepcione.
Isso, muito bem! Esse sorriso, nada de lágrimas...

- Obrigada, mais uma vez, querida consciência.


“Que é que você tem?
Conta pra mim...
Não quero ver você triste assim
Não fique triste!
O mundo é bom; a felicidade até existe
Enxugue a lágrima, pare de chorar
Você vai ver que tudo vai passar
Você vai sorrir outra vez
Que mal alguém lhe fez?
Conta pra mim!
Não quero ver você triste assim...”  - Erasmo Carlos - Roberto Carlos


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Pesadelo

 O estacionamento estava lotado. Depois de cerca de quinze minutos rodando, Manuela achou uma vaga. Havia um carro antigo ali ao lado, o condutor estava saindo do carro no momento em que ela estacionou. Ele deveria ter cerca de trinta e cinco anos, barba mal feita, cabelo despenteado, aparência de quem não dormia há dias.
 Enfim, desceu do carro em direção ao supermercado, sua filha ao lado permanecia calada. Já tinha alguns dias que Ana andava estranha, mas não dizia a sua mãe, Manuela, o motivo.
 O motivo não era qualquer problema juvenil de uma menina de quinze anos, era algo assustador e inacreditável, então, ela continuava a esconder os pesadelos que se tornavam realidade. Quem iria acreditar nela?
Tinha certeza que a olhariam como um monstro.  Seu pai a expulsaria de casa, cético demais para acreditar em algo assim.  Só de comentar uma vez que acreditava em horóscopo, quase apanhou e ficou de castigo. Ele tinha medo que a enganassem, quando na verdade era mais fácil ela enganar os outros. Sua mãe talvez acreditasse, mas preferiu não arriscar.

Manuela comprou tudo que precisava, enquanto Ana parecia apenas uma sombra em torno dela, não balbuciava nenhuma palavra e não mudava de expressão. Quando saíram, foi Ana que reparou no homem que estava com o carro estacionado ao lado do delas. Estava encostado no carro, parecia esperar algo, na sua sacola havia apenas refrigerante e salgadinho. Ana passou por ele, seus olhares se cruzaram, ele parecia-lhe familiar.

 Quando a noite se aproximava, Ana começava a se angustiar, ia de um lado para o outro da casa. Mas, não tinha jeito, o sono vinha e fugir se tornava impossível. E como já acontecia há algumas semanas, o mesmo pesadelo retornava.
 No pesadelo ela assistia a morte de um homem, ele se matava e ela não podia fazer nada, um tiro na cabeça. Ela via tudo com uma enorme riqueza de detalhes. Ele se vestia com uma calça jeans rasgada, tênis com um pequeno furo ao lado esquerdo do pé direito, camisa listrada, verde e vermelha com uma mancha de molho do lado direito do peito. Mas, o que mais a assustava era o cenário, o estacionamento daquele supermercado. O rosto, ela ainda não conseguia ver.
 Sempre que Manuela precisava comprar algo, Ana estava pronta para ir, tinha esperança de impedir o suicídio. Sua mãe já estava percebendo algo muito errado, ela nunca tinha sido tão prestativa. E sempre que iam Ana encarava o homem da barba mal feita que sempre estava por ali, parecendo esperar algo como de costume.
 Mais uma semana com o pesadelo persistindo. Essa noite, algo mudou, ela viu o rosto dele. Sim, era o homem de barba mal feita.
 Na manhã seguinte, não tinha mais como fugir, ela contou tudo para sua mãe. E como ela já esperava, Manuela fingiu compreender e disse que devia ser apenas, coincidência.
Ana desistiu de convencer sua mãe.
 Domingo, três meses depois do dia que começaram os pesadelos constantes, foram a aquele supermercado. A última vez, elas nem imaginavam, quer dizer, Ana sabia que a qualquer momento seria a última vez que pisariam ali.
 Elas estavam indo embora, o homem dessa vez estava sentado no banco do passageiro com todas aquelas descrições, a calça, o furo no tênis a mancha na camisa listrada, mas, sua mãe não aceitou ficar mais um pouco por ali e a arrastou com ela. Saíram da vaga quando, Ana, olhou para trás e o viu abrir a porta, pegar a arma e se levantar.
 Ela pulou do carro ainda em movimento, sua mãe freio na hora. Ela corria como nunca antes, mas quando achou que conseguiria impedir ele disparou. O disparo parecia ecoar por todo o corpo dela. Ajoelhou-se ao lado dele, o sangue escorria próximo ao corpo dela. O olhar dele cruzou com o dela pela última vez.
 Ana chorava. Porque sonhou com aquilo se não pôde impedir? Questionava-se.
Manuela olhava com uma expressão indecifrável para ela.
 Uma mulher saiu chorando do supermercado, e, apenas, disse: “Como eu imaginava, ele esperava por ela. Mas, ela não poderia mais voltar pra ele, então, ele voltou pra ela.” Respirou fundo e completou: “Você se parece tanto com ela, menina.”


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Fonte imagem:
http://justicanahoradofim.wordpress.com/category/e-suicidio/

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Casos de Elevador

   Inspirado em uma conversa cotidiana de elevador.

Ainda morrendo de sono e só pensando na sua cama aconchegante, ela entrou no elevador.  Próximo andar, ele entra. Cumprimentam-se, falam sobre o tempo. Elevador pára, desesperados chamam socorro, precisam ir trabalhar.

Meia hora depois e nada, nesse momento já estão “jogados” no elevador.
 Ela olha séria para ele e diz:
- Seus olhos são verdes.
- Os seus também.
Sorri ele.

Ela pensou em fazer o discurso “Não, na verdade eles são azuis, mas dependendo a luz e o clima ele fica verde...”.
Deixou quieto, tava tão bom aquele olhar dele penetrando os olhos “verdes” dela. Pra quê complicar, não é?

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Não Queira Possuir

Possuir as coisas, nós gostamos disso, ?
Mas, é essa mania de “posse” que acaba com a gente, achamos que tudo ao nosso redor é propriedade nossa. Não, não é, é do mundo. Não podemos colocar uma plaquinha escrita em alguém “Propriedade de fulano de tal desde xx/xx/xx”, por exemplo.
E quando percebemos vem o tal do ciúme, da insegurança.
Não adianta, por mais que tentamos “possuir” tudo e todos pra gente, não conseguimos.
 “Meu, meu, meu...”, dá vontade de gritar. É assim desde criança.
Nem um simples objeto conseguimos possuir de verdade, ele pode ser roubado, perdido ou sofrer uma queda e aí, já era, não é mais o mesmo.  É como tentar possuir alguém, não dá, não pode, é inevitável, a hora vai chegar e ele vai tentar escapar por entre seus dedos, vai deslizar pra fora dos seus abraços.
Eu digo, TUDO é do mundo.
E mesmo assim nós ainda tentamos deixar aquilo ou alguém somente no NOSSO mundo. Talvez seja, apenas, o nosso lado egoísta falando mais alto ou o amor na dose errada.
Mas, com certeza um passáro voando e pousando na sua janela pelo prazer real de estar ali é muito mais prazeroso do que aquele que não vê a hora de escapar da gaiola que você o colocou.  
 fonte da imagem: https://www.google.com.br/

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

DOR

Fonte da imagem: http://migre.me/aKuSJ

Vai corroendo, queimando e destruindo.
Um pedaço do corpo, do coração e acaba na alma.
É como o fim da abelha ao utilizar seu ferrão, é como não ouvir o trovão após o relâmpago. Inevitável.
Tentar distrair o inevitável, tarefa árdua.
Torcer para o tempo correr e tudo acontecer de uma vez. Como tirar o curativo, puxar de uma vez e todo o sofrimento se acabar rapidamente. Mas não, tudo insiste em acontecer lentamente.
Um minuto, infinito. Um dia, eternidade.
Acaba com uma vida, desmancha um sorriso, traz uma lágrima, enlouquece.
Vem, abala, desestrutura, brinca de ir e vir. Sorri e se diverte com você.
Mas quando você menos espera sai por cima, se contorce e torce. Dança para ela, gira e salta, se vinga deliciosamente.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Estou Aqui

 Sua mão não soltava aquele mouse, o único movimento que fazia era descer e subir a barra de rolagem da página. Ela mal piscava, seus olhos já estavam ressecados pelo longo tempo que lia e relia aquelas juras, brincadeiras e indiretas salvas no seu computador.
 O único som no ambiente era aquela música, a primeira entre tantas, que ele disse que era para ela, continuava rodando sem parar na sua playlist. Já não sabia se chorava ou sorria ao ouvi-la, preferiu continuar a não esboçar nenhum tipo de sentimento no rosto.
Mais um leve movimento, guiou o mouse para abrir a página social dele. Leu todas as atualizações, ele estava melhor que ela, conclui.
- Oi!
Piscou a janelinha do bate-papo.

- Oi! Espera só um instante.
Respondeu ela ao rapaz que a chamava.
Olhou em volta, estava muito escuro, se arrastou, apertou o botão para acender a luz, e, lentamente abriu a porta que permanecia há muito tempo fechada.
 Voltou e disse ao rapaz:
- Pronto. Estou aqui =)