segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Passarinho morto


Eu o intrigo. Intrigo porque sei viver sem ele, porque não espero ligação no dia seguinte. Não choro, nem quero café-da-manhã. Janto à luz de velas com os meus fantasmas e não espero que alguém venha me salvar. Ele não entende a independência que corre em mim, porque ele sempre foi acostumado a ter gente que corria por ele, atrás dele. Mas eu não. Eu o ameaço. Ameaço porque sei de cor poemas de Fernando Pessoa, mas também tenho aprendido a saborear e me deliciar com Anaïs Nin. Entendo “Ensaio sobre a cegueira” e sei o sentimento que o autor queria passar. Gosto de analisar poesias, mas ainda não entendi como se ama um passarinho morto. Ele não quer saber de nada disso, só fica tranquilo quando eu leio um romance light, acha que eu vou ficar vulnerável e finalmente me apaixonar por ele, não imagina que eu estou justamente aprendendo a como não ser romântica, a não seguir os passos das personagens e me embasbacar por qualquer cara como ele. Ele gosta do desafio que eu sou. Ele quer vencer os obstáculos, mas ainda não passou nos primeiros testes.
Se bem que eu acho que o vi com um Manuel Bandeira na mão esses dias, talvez ele seja capaz de me dizer como se ama um passarinho morto...

*"Como se ama um passarinho morto" faz referência ao poema Boda Espiritual do Manuel Bandeira.

domingo, 16 de setembro de 2012

Em nome de Deus


Decora versos, espalha palavras bíblicas, declara amor e devoção a Ele. Santifica-se. Coloca asas de anjo, mas sua aura é negra. Finge ter água benta na boca para poder dizer venenos, enquanto bebe vaidade.

No sétimo dia da semana abre-se a igreja, o templo ou o reino de Deus e você entra com sua melhor vestimenta para agradar os anjos, mas eles lamentam. Então ore, ponha os joelhos no chão ou erga as mãos. Peça perdão e não se esqueça de decorar o discurso, senão você pode se contradizer. Porque só o teu discurso tem te salvado na sociedade, tuas atitudes já perderam a direção, está condenada.

Tem uma dívida enorme, reza a noite para quitá-la, mas de dia volta a aumentá-la. E facilmente em nome de Deus justifica os pecados, chora a Maria Madalena arrependida.
Mas é fácil colocar o nome Dele na boca e por trás cuspir, não é?

Colocando Deus na frente e o diabo nas costas. Você é desse tipo de gente que tem a risada maligna que poucos conseguem ouvir. Você é desse tipo que sai pregando por aí, mas guarda pregos sujos de sangue no bolso. E ainda finge que é em nome de Deus, as palavras Dele que você usa para disfarçar a sua ruindade. 

Fonte da imagem: http://migre.me/aJqMW

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Uma canção que faça dormir


Não dá vontade de aumentar o volume no rádio do carro e sua música preferida não te atravessa e nem anima. Você canta, mas dói, se desenha um laço torto na garganta amarrando o choro. Os males não se espantam.

E no celular a música avisa que é o seu amor, mas isso também já é indiferente. Nada mais importa, nada alegra, nada te faz cantarolar. Nada, nem ninguém.

Só se sente vontade de ouvir uma canção de ninar, pra você conseguir dormir essa noite. E na próxima também, pra sempre. 

Fonte da imagem: http://migre.me/aH1Rq

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Apegados aos efêmeros paraísos


A gente deveria saber ir embora quando ainda é bonito. Quando ainda somos só sorrisos. Deixar na memória só aquilo que ilumina, não deixar apagar. Não deixar chorar.
A gente deveria dizer adeus aos nossos efêmeros paraísos, porque uma hora o sol sempre se vai. E nós ficamos, lambendo gotas da chuva, a espera dele voltar, insistindo.
Deveríamos saber abandonar, sem esquecer nenhum pertence, pra não ter motivo pra voltar. Mas ficamos, com tudo, inteiros, só pra ver como vai ficar.
Ainda não aprendemos a como abandonar paraísos. Não percebemos que eles talvez sejam só miragens.

Fonte da imagem: http://migre.me/aEsgH