quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sobre os cortes que não cicatrizam


(sóumpequenodesabafonadademais)
Há alguns anos atrás eu me cortei sem querer, eu via o sangue sair e sentia dor. Chorei, chamei minha mãe e minha irmã veio junto.

Minha irmã puxou minha orelha nesse momento, literalmente. Gritei e olhei espantada pra ela, pedindo pra parar, mas ela me deu uma explicação por estar fazendo aquilo... E em resumo o que eu entendi foi: Se distrai uma dor, com outra dor.

Realmente, aquilo me distraiu da dor, do corte e do sangue – apesar de ter a achado uma louca-insensível naquele momento.

E agora é exatamente isso que eu estou fazendo: Focando em outra dor banal, como o puxão de orelha. Pra tentar distrair a dor que ainda não cessou, os cortes profundos e que não param de sangrar. Mas mesmo assim ainda dói. E por mais que eu coloque gazes, por mais que eu tente estancar, por mais que eu faça pontos, eles sempre estouram e os cortes vivem abrindo e o sangue continua pingando... Por todo o meu chão. 


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Esquizofrenia


Os olhos vão de um lado para o outro, compassados, desesperados.  Procuram os monstros escondidos na sombra, até mesmo na luz. Não se fecham, arregalam, vermelhos, choram e as lágrimas transparentes se confundem com o suor que escorre frio pelo rosto. O suor do calor seco que invade a respiração afobada, desgastante, quase acabada.
O rapaz sai correndo, fugindo das vozes, encarando os rostos na rua, empurrando pessoas. Ouve risadas, zombaria. O ouvido apita, ele grita. Pede silêncio – shh -, mas não há barulho em volta. Ele está desgovernado, em desalinho. Surtou. Pisa no chão parece que afunda. Corre sem rumo, pesado, como se corresse no mar. Mergulhou nas sombras, nos fantasmas, nos pensamentos descoordenados.  Delira.
Há falhas, falta algo que ele não sabe. Bate na cabeça pra ver se volta a funcionar, aperta os olhos para deixar de ver aqueles seres, tapa os ouvidos pra não ouvir o que eles dizem. 
Se esconde no quarto, por baixo e em cima da cama. Mas estão por todos os lados, estão o dominando. Está tudo dentro dele. 

Fonte da imagem: http://migre.me/b51a3

domingo, 7 de outubro de 2012

Meu arco-íris


Deitei de noite na cama, teu braço me puxou pra grudar seu abdômen na minha lombar, teu nariz encostado na minha nuca, eu sentia sua respiração reavivar o arrepio do meu corpo, o silêncio do mundo. Na sexta-feira eu bebi amor.

De manhã virei de lado e passei a mão no teu rosto, pra tirar a franja de cima dos teus cílios. As cobertas desarrumadas, você quase atravessado na cama, abriu os olhos verde floresta e sorriu de lado pra mim. No sábado de manhã, me levantei e fui feliz.

Na manhã de domingo tinha cheiro de café, à tarde tinha seu perfume Chanel por todo o sofá. Você sentado nele, eu mergulhada em você. Você cobrindo meu domingo de poemas, eu lendo você. No domingo eu vi o mundo colorido, e descansei.

E na segunda-feira eu acordei, de madrugada, despertada pela lembrança. Na segunda eu me lembrei da sua passagem de arco-íris por aqui. Foi bonito. 

Fonte da imagem: http://migre.me/b1HGg