segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Um texto que doesse

"Eu queria escrever um texto que fizesse o leitor sentir o que eu sinto.

Eu queria escrever um texto tão triste e pesaroso que fizesse o leitor suspirar e derramar uma lágrima sobre o ponto final. Um texto tão melancólico que fizesse o leitor sentir uma tristeza tão profunda ao ponto de dizer “mas que texto mais triste” e chorar de dar dó.

Eu queria escrever um texto tão lastimoso que buscasse na emoção do leitor as suas mais tristes lembranças e as jogasse para fora dos olhos entremeio as lágrimas que inundassem  o papel e borrassem a parte já lida do texto.  Um texto tão pulgente que atingisse em cheio a alma do leitor e o fizesse sentir um vazio tão grande no peito que ele diria “mas que texto mais triste” e desejaria interromper a leitura para me abraçar.

Eu queria que o leitor chamasse quem estivesse ao seu lado para ler também e dissesse “olha que texto mais triste” e a pessoa lesse e sentisse e chorasse e concordasse dizendo entre soluços “mas é mesmo um texto muito triste”.

Eu queria que o leitor ficasse pensativo e com os olhos marejados ao ler meu texto e pensasse “mas que texto mais triste e lindo de tão triste”.  Um texto que doesse.  Eu queria que minhas palavras ficassem gravadas na memória e na alma do leitor e que o fizessem chorar ao lembrá-las.

Eu só queria escrever para fazer o leitor sentir o que eu sinto, porque eu escrevo para não sufocar. O problema é que às vezes eu sinto o que é intransponível em palavras." (Dani Lusa) 

Fonte: http://migre.me/fNnGn


Pra quem gosta do que eu escrevo e me cobra pra voltar ao blog, me desculpem a ausência. Qualquer dia eu volto, de verdade.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Esses dias.


Tem dias que lágrimas pesam mais que os ombros e derramam em pensamentos. Tem dias que os monstros da cabeça sussurram tão alto que não é possível ouvir o próprio grito.

Caindo sobre gente vazia, num velório de emoções partidas.  

Levantando sobre escombros, cega pela estrago.

Sapatos encharcados de uma estrada afundada.

A cama está pronta e quente, mas eu cai muito longe de casa. 

Fonte da imagem: http://migre.me/eSkXd

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Pedaços de você


I.               Olhos
Castanhos-que-ficam-esverdeados-com-o-sol. Descobri uma nova cor, minha preferida agora. E eu gosto de ver eles no escuro só pra lembrar que existe luz, no fim do túnel, na lua, em você, na gente quando eu me vejo aprisionada neles.

II.             Sorriso
Eu descobri a cura de todo o mundo e não dividi com ninguém. É porque essa é única coisa que conserta toda a minha semana: ele abre um pouco a boca e mostra os dentes e até os olhos dele se repuxam e caem um pouquinho.  E aí ele me atravessa, só pra beijar minha boca. E eu suporto o mundo e ensurdeço.

III.         Boca
   E todos os segredos estão ali e ninguém sabe.  E todos os versos e poemas também.

                                                                          IV. Colo
                    Ele me aninha, afastando os medos de um filhote.

                                                V. De corpo inteiro
 Ele é meu. Com a barba que me aranha e a mãos que me seguram. Do ombro à cabeça, das bochechas às pernas. Do avesso, ele me fez inteira, juntando os pedaços dele pra me refazer. Nos encaixar. 

Fonte da imagem: http://migre.me/e7DAB

terça-feira, 9 de abril de 2013

Dia e noite de mágoa

Fonte da imagem: http://migre.me/e3qZU

Abri os olhos. Eu acordei com a cama me engolindo e os monstros subindo em cima de mim, engolindo minha alma. E o que restara ali era o meu corpo, imerso num monte de cobertores, suado. Um gosto amargo na boca, como aqueles remédios que a gente coloca debaixo da língua. Eram mágoas. Acordei cheia de mágoas debaixo da língua. Eu queria cuspir, vomitar, mas nem as palavras voavam da minha boca.

Eu queria que as imagens saíssem da minha cabeça. A angústia... De repente eu sentia um rasgo no peito que descia até a barriga. Borboletas mortas.

Nadei nas cobertas pra sair da cama. O sol ardia e se misturava nas nuvens, como quem risse dos cânceres que eu alimentava, como quem risse da minha dor e da minha raiva num ato desesperado de salvação.

Bebi um café amargo pra competir com as mágoas.

Mastiguei um doce pra amenizar.

Engoli a saliva e formei um sorriso.

Meu corpo se projetava pra gritar, mas a voz não saía.

Vivi mais um dia com minhas mágoas de estimação. Muito bem alimentadas, por sinal.

E dormi mais uma noite, com elas deitadas sobre o meu peito.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Diálogo Secreto


-       Eu quero uma cerveja.  – pediu ela, entregando o cardápio ao garçom de forma pueril.
-       Você reclamava que era amarga.
-       Descobri que eu também sou, combinamos.
-       E você também não bebia! – reclamou ele.
-       Digamos que você é o único que descobriu isso.  – selecionou uma das batatas na mesa e mastigando completou – ah, e obrigado por me ensinar a beber.

Silêncios indo e vindo. 

- Então... Por que a mensagem? – perguntou ela. Ergueu as sobrancelhas e apertou os lábios vermelho sangue.
- Alguém sabe que você tá aqui?
- Não.
- Só...lembrei das tuas palavras, de você. – disse ele, abaixando mais o tom de voz.
- uhum, entendi. E ela? Sabe que você tá aqui?
- Não faz ideia.

Ele jogava brincadeiras, piadas prontas, bobagens de menino.

-       Preciso ir.  – Encaixou os pés no sapato e tomou o último gole de uma cerveja.
-       Mas você vai assim? – perguntou ele.
-       Sim.

            Seguiram até a porta, depois de pagarem a conta em silêncio.

-       Mas antes que eu me esqueça – ela deu meia volta e ficou colada nele, abriu a bolsa e tirou um punhado de moedas – Sei que o fim do ano já passou, mas toma aqui a caixinha dela.
-       Como assim?
-       É assim que gente educada faz lá na minha rua, dá caixinha pro lixeiro todo fim do ano. A gente sempre fica feliz quando recolhem um lixo, né?

Sorriu e entrou no carro, imperiosa.

Os dentes dele rangiam raiva e vontade de agarrar, pela última vez, aquela mulher, mostrar quem manda. Mas o queixo caiu, agora era ela. 

Fonte da imagem: http://migre.me/dSmEm