segunda-feira, 15 de abril de 2013

Pedaços de você


I.               Olhos
Castanhos-que-ficam-esverdeados-com-o-sol. Descobri uma nova cor, minha preferida agora. E eu gosto de ver eles no escuro só pra lembrar que existe luz, no fim do túnel, na lua, em você, na gente quando eu me vejo aprisionada neles.

II.             Sorriso
Eu descobri a cura de todo o mundo e não dividi com ninguém. É porque essa é única coisa que conserta toda a minha semana: ele abre um pouco a boca e mostra os dentes e até os olhos dele se repuxam e caem um pouquinho.  E aí ele me atravessa, só pra beijar minha boca. E eu suporto o mundo e ensurdeço.

III.         Boca
   E todos os segredos estão ali e ninguém sabe.  E todos os versos e poemas também.

                                                                          IV. Colo
                    Ele me aninha, afastando os medos de um filhote.

                                                V. De corpo inteiro
 Ele é meu. Com a barba que me aranha e a mãos que me seguram. Do ombro à cabeça, das bochechas às pernas. Do avesso, ele me fez inteira, juntando os pedaços dele pra me refazer. Nos encaixar. 

Fonte da imagem: http://migre.me/e7DAB

terça-feira, 9 de abril de 2013

Dia e noite de mágoa

Fonte da imagem: http://migre.me/e3qZU

Abri os olhos. Eu acordei com a cama me engolindo e os monstros subindo em cima de mim, engolindo minha alma. E o que restara ali era o meu corpo, imerso num monte de cobertores, suado. Um gosto amargo na boca, como aqueles remédios que a gente coloca debaixo da língua. Eram mágoas. Acordei cheia de mágoas debaixo da língua. Eu queria cuspir, vomitar, mas nem as palavras voavam da minha boca.

Eu queria que as imagens saíssem da minha cabeça. A angústia... De repente eu sentia um rasgo no peito que descia até a barriga. Borboletas mortas.

Nadei nas cobertas pra sair da cama. O sol ardia e se misturava nas nuvens, como quem risse dos cânceres que eu alimentava, como quem risse da minha dor e da minha raiva num ato desesperado de salvação.

Bebi um café amargo pra competir com as mágoas.

Mastiguei um doce pra amenizar.

Engoli a saliva e formei um sorriso.

Meu corpo se projetava pra gritar, mas a voz não saía.

Vivi mais um dia com minhas mágoas de estimação. Muito bem alimentadas, por sinal.

E dormi mais uma noite, com elas deitadas sobre o meu peito.